Este carro é uma daquelas obras-primas do comunismo, produzido na extinta Alemanha Oriental (outra
obra do comunismo) e era fabricado pela Sachsenring; era o mais popular automóvel dos países
socialistas e, para ter uma idéia de como ele era ruim, não chegava nem aos pés de um Lada Laika, por
exemplo.
Também conhecido como “Trabby” ou “Trabbi” ou “Trabi”, o modelo chegou a ter fila de espera de 14
anos, e era normal os pais cadastrarem seus filhos recém-nascidos para que, quando atingissem 18 anos,
pudessem pelo menos tentar comprar um desses. Na verdade o Trabant (que significa satélite natural em
grego) era apenas um meio de transporte, despido de qualquer vaidade, estilo ou supérfluos. Um passo
adiante a andar a pé ou de ônibus. Se os carros comunistas eram assim, imagine então os ônibus… Era
péssimo em todos os sentidos, mas dizem que era confiável devido à sua simplicidade mecânica: o motor
era composto de bloco, cabeçote, virabrequim, dois cilindros e duas bielas, ou seja, sete peças sendo
apenas cinco móveis.
Idealizado logo após a Segunda Guerra Mundial a partir de restos de fábricas alemãs, o carrinho
Trabant foi o primeiro –ou segundo, depois do P70 de 1954 a 59, o “pré-Trabant”- carro alemão com
carroceria de material plástico. O nome Trabant só foi adotado a partir de 1957. No mundo capitalista,
o Corvette era feito de material plástico, o que demonstra o abismo entre as duas situações.
Sua carroceria era feita de Duroplast, resina misturada com fibras vegetais ou algodão. Era fácil
de fazer, leve e dispensava a importação de aço, algo sempre caro na composição de custos de um
automóvel. Só que não oferecia muita resistência em caso de acidentes. Mas hoje os velhos Trabant
estão superando alguns carros hatch pequenos em provas de colisão.
Dois Tempos
O motor era um pequeno dois cilindros de dois tempos, que obviamente dava ao carro um desempenho
para lá de modesto. Quando saiu de linha, em 29 de abril de 1991, tinha 600 cm3 de cilindrada e 25 cv
de potência máxima. Levava 21 segundos para ir de zero a 100 km/h e atingia a velocidade máxima de 112
km/h. O maior problema desse motor era o excesso de fumaça produzido, por conta da queima da mistura
de óleo dois tempos com a gasolina, como nos nossos DKW.
O Trabant foi produzido em várias fábricas alemãs fechadas depois da Guerra. A marca do faricante
era AWZ (Auto-Werke Zwickau), que ficava em Zwickau, e o nome Trabant foi usado pela primeira vez em
1957, com o lançamento do P50. Originalmente o P50 seria um triciclo com rodas cobertas, e só se
transformou em automóvel no final do projeto, se é que havia um projeto. Com a reunificação das
Alemanhas em 1989, a solução para que milhões desses carros rodassem pela Europa poluindo menos foi a
adaptação de motores VW Polo 1.1; muitos já rodavam “preparados” com motor de Fiat 128.
Foram produzidos até 1991 exatos 3.096.099 Trabant, e milhares ficaram abandonados quando o Muro de
Berlim deixou de existir. Aí se pode constatar que as últimas carrocerias tinham componentes feitos de
papelão. Podia-se comprar um por menos de US$ 100. Começaram a ficar empilhados e se transformaram em
problema ecológico. Cientistas tentaram até criar uma bactéria que “comesse” a carroceria e outros
tentaram misturar as carrocerias de papelão à ração dada aos porcos, prontamente rejeitada pelos
suínos. Logo começaram a rarear e, a título de curiosidade, foram parar em museus ou nas mãos de
colecionadores excêntricos. Na turnê “Zôo TV Tour” do U2, alguns Trabant fizeram parte da decoração do
palco.
Curiosamente o “Trabby” impôs uma humilhação surpreendente à Mercedes-Benz: no mesmo teste do alce
em que o Classe A foi reprovado, o velho Trabant se saiu muito bem. A comparação foi feita por
jornalistas a título de gozação, mas o carrinho acabou superando o Classe A.
História
Nos anos 50, na Europa pós-guerra, os meios de transporte individuais ganharam força. Começaram a
surgir, em especial na Alemanha, os micro-carros, intermediários entre a motocicleta e o automóvel.
Não eram destinados a serem substitutos dos automóveis, e sim opção barata de transporte num
continente assolado pela insanidade da Guerra. Alguns evoluíram bem e deram origem a marcas como como
Wartburg, Lada e Dacia. O primeiro AWZ tem origem no conhecido DKW, já que era basicamente o DKW F8 de
dois cilindros e dois tempos anterior à Guerra. Depois veio o F9 e em 1953 a produção foi levada
também para Eisenach.
Em Zwickau, a AWZ desenvolveu um novo carro chamado P70 (“P” de plástico e “70” em alusão aos 700
cm3 do motor). O P70 estreou em 1955, na Feira de Leipzig. Seu motor era baseado no velho F8, com dois
cilindros, dois tempos, 690 cm3 e 22 cv. Pesava 820 quilos e atingia 90 km/h de “top speed”. O câmbio
era de três marchas não sincronizadas e a tração era dianteira. Durante quatro anos foram feitos
30.000 carros e, em 1957, surgiu sua evolução, o P50.
Esse P50 ganhou o nome de Trabant, escolhido entre centenas de sugestões dos operários da fábrica.
Numa comparação tosca, o Trabant P50 tinha 3,37 m de comprimento, 1,50 m de largura e 1,39 m de
altura, enquanto um de seus “rivais”, o Goggomobil T 300 Limousine tinha 2,90 m de comprimento, 1,28 m
de largura e 1,31 de altura. Isso mesmo, o Trabant era maior e mais potente que o Goggomobil, se é que
isso possa ter mudado algo na história do automóvel.
O desenho do carro lembrava o que houve de pior nos anos 50 com toques comunistas, motor de 500 cm3
e 18 cv, mas a transmissão era de quatro marchas sem sincronia. Logo veio o P60, com motor de 600 cm3
e algumas mudanças externas. Em 1964, depois de 132.000 P50 e P60 produzidos, a AWZ lançou o hoje
lendário Trabant P601. O motor de 594 cm3 e 26 cv era derivado do P50. Ganhou novos cilindros, novo
cabeçote e outro sistema de escapamento. O visual continuava beirando o ridículo, mas era o melhor das
últimas três décadas. Tinha a versão seda de duas portas e a wagon.
Em Alta
Pode-se falar mal do Trabant em todos os sentidos se formos analisá-lo pelo aspecto técnico. Mas é
preciso considerar que foi um meio de transporte básico, algo necessário hoje no Brasil, onde existe
mercado para modelos muito menos sofisticados que os “carros populares”. Era um resumo do comunismo: “
ruim, incapaz de fazer muitas coisas, tampouco eficiente, mas que nivelava as pessoas”. Pena que
nivelava por baixo.
Hoje, milhares e milhares de Trabant destruídos depois, o preço do carrinho subiu para quase US$ 5
mil na Europa, onde é visto como absoluta curiosidade. Transformou-se em símbolo motorizado de uma
época a ser esquecida. Afinal, talvez fosse o único automóvel fabricado nos anos 80 cujo marcador de
gasolina era uma haste graduada que se colocava no tanque para saber quantos litros de combustível
ainda havia. Segundo estimativas, cerca de 200 mil Trabant ainda rodam pelo mundo. |