RIO - No Brasil, carros antigos são bibelôs de garagem: raramente são postos na estrada e o mais longe que vão é no encontro mensal do clube de colecionadores. Na Europa, a mentalidade é bem diferente: acham que automóvel é feito para andar, senão seria auto-imóvel... Daí fazerem ralis como o Carrera Copacabana. O evento começou há quatro semanas em Buenos Aires e terá a bandeirada final no Rio, em plena Avenida Atlântica, na tarde do próximo domingo. São 13.316 quilômetros por estradas de asfalto e de terra.

Mustang 1966
A prova é organizada pela Classic Events, uma empresa da Holanda, país de onde veio a maior parte das equipes. Entre os participantes, há também alemães, ingleses, austríacos, finlandeses... São pilotos amadores (muitas duplas são formadas por marido e mulher) com tempo e dinheiro sobrando para uma aventura dessas.
São 33 carros, na maioria Mercedes, Jaguar e Volvo fabricados nas décadas de 60 e 70 e modificados para vencer toda sorte de pisos. Alguns são veteranos de provas de longa distância, como a Pequim-Paris de 2007. Um Morris Landcrab que participa da Carrera Copacabana fez a maratona Londres-Sydney em 1968.
O vovô da turma é um centenário American La France de 1909, que quebrou logo após a partida. O dono não deu o braço a torcer: comprou uma Amarok novinha na Argentina para fazer o restante do rali (há uma categoria para 4x4 modernos). Existe a possibilidade de o American La France chegar a Copacabana rebocado pela picape Volks...
Agora, o mais velho ainda competindo é o inglês Lagonda M45, ano 1933, botando pra jambrar com seu motor original de seis cilindros.
Organizada pelo ralizeiro holandês Bart Rietbergen, a prova percorre cinco países: Argentina, Chile, Peru, Bolívia e Brasil. Roda-se, em média, 520 quilômetros por dia, em paisagens como Bariloche, Deserto de Atacama e Cuzco.

Fila na Fronteria do Perú. Em primeiro plano Jaguar XK150 1959.
É um rali de regularidade: os carros têm que percorrer trechos da rota em tempos exatos e cronometrados. Há desde estradas com asfalto perfeito, como os tapetes da Argentina, até demolidores trechos de terra na Bolívia, entre La Paz e o Salar de Uyuni.
- Demoramos cinco horas para andar100 quilômetros. Vários competidores quebraram - conta o brasileiro José Rodrigo Octavio, entusiasmado voluntário na equipe de apoio.
Os percalços foram muitos: houve até Porsche 911 abastecido, sem querer, com diesel. Um Mustang capotou, mas voltou à disputa. Na fronteira do Peru só havia um atordoado funcionário para fazer os trâmites da entrada dos 40 carros competidores e de apoio.
E há as quebras comuns de carros vetustos submetidos a esforços. Imagine o que é percorrer tamanha distância com um temperamental Jaguar dos anos 60. Mesmo assim, até a tarde de ontem, eram só seis baixas, entre 33 veículos inscritos. Haja espírito de camaradagem para mantê-los em marcha.
Hoje, a caravana está entrando no Brasil, por Foz do Iguaçu, e a rota inclui Campinas (SP) e Pouso Alto (MG).
A chegada a Copacabana está prevista para as 15h30m de domingo. Os que quiserem ver de perto este incrível exército de Brancaleone terão uma chance: os carros ficarão expostos na Avenida Atlântica, Posto 6, até por volta das 17h.

Jaguar MK II 1960

Lagonda M45 T7 1933
 Porshe 911S 1973
 Jaguar MK VII 1953

Mercedes 280 SLC 1976
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