O dinheiro investido em 2004 em automóveis clássicos já duplicou. O mercado dos veículos históricos é mais rentável que os das acções e do ouro.
Em plena crise, os automóveis foram o investimento com maior retorno. Pelo menos os clássicos. Um Bugatti, Jaguar ou Ferrari, se comprados em boas condições, foram uma melhor aposta de investimento que a compra de acções, arte ou até mesmo ouro. "As pessoas preferem ter algo em que possam tocar, em vez de um pedaço de papel do banco", diz Dietrich Hatlape, fundador do Grupo de Automóveis Históricos do Reino Unido.
Mais cheios do que nunca, os leilões deste tipo de carros também tem deixado o mercado surpreendido. No início de Agosto, um Shelby Daytona Cobra Coupe, de 1965, foi vendido por quase 5 milhões de euros, o preço mais alto alguma vez pago por um carro americano em Inglaterra.
Em Portugal, o investimento em carros clássicos também aumentou e está a ser acompanhado por uma subida nos preços. Ainda que seja difícil de calcular por insuficiência de dados, a maioria dos carros valorizaram nos últimos cinco anos, havendo valores duplicados nos mais emblemáticos.
Quem comprou um Porsche 911 2.7 RS em 2004, sabe que agora vale o dobro: cerca de 200 mil euros, diz o Automóvel Clube de Portugal - Clássicos (ACPC). O Ferrari Daytona 3.5 GTB/4 teve um percurso semelhante. O investimento de 120 mil euros feito em 2004, já está duplicado. Actualmente a valer 75 mil euros, o Jaguar E descapotável apenas viu o seu preço valorizar em 30%. Acontece também que com a popularidade de um modelo, se foque a atenção em outros que estavam mais esquecidos.
O Datsun 240Z, actualmente a 20 mil euros, também faz parte do grupo dos automóveis que mais valorizaram, devido ao aumento da procura. Embora incluído em uma gama mais baixa, o investimento continua a valer a pena, já que de valorizou 100% nos últimos cinco anos. Os Datsun, anteriormente carros que não despertavam qualquer atenção por parte dos coleccionadores, adquiriram uma nova popularidade com a criação do "Troféu Datsun 1200". A procura de carros de competição é constante: acabam mesmo por "rivalizar com os desportivos", diz Luís Cunha, secretário-geral do ACPC. "As pessoas percebem que podem ter um clássico simultaneamente barato e bonito". É o caso do Renault 4 que tem visto a procura crescer nos últimos meses.
Luís Cunha diz que "há uma tendência, errada, para colar a compra deste tipo de carros a sinais exteriores de riqueza". "É uma doença incurável que tanto pode ter como objecto de estima uma acelera como um carro de grande prestígio." De facto, o estudo feito pela FIVA (Federação Internacional de Veículos Antigos) em Outubro de 2006, diz que 79% dos "carros históricos" têm preços abaixo dos 15 mil euros e 29% dos proprietários destes veículos têm um rendimento anual não superior a 30 mil euros. "Os coleccionadores podem querer um Porsche, mas enquanto o dinheiro não chegar, compram outras marcas", acrescenta.
Ainda assim, em Portugal não se pode dizer que a crise passa completamente ao lado do mercado dos carros antigos. Neste último ano, alguns modelos perderam o valor que tinham "de forma atípica", diz, mas "a maioria valorizou e os modelos mais raros vendem-se sempre e sem qualquer quebra no preço". |