 Marcel Renault na Corrida Paris-Madri em 1903 A velocidade e a competição
A primeira competição automóvel teve lugar em 1884, promovida pelo jornal “Le Vélo”. Disputou-se entre Paris e Bordéux, e o regulamento era muito liberal, dizendo que “qualquer modelo é aceite, desde que ande”
Os últimos anos do século XIX correram a um ritmo alucinante, marcado pelo desenvolvimento da nova invenção, “As carruagens sem cavalos”, que alguns já apelidavam de automóvel. A França e a Alemanha lideravam esta corrida, motivando a nobreza e a alta burguesia. Ao mesmo tempo que se deixavam cativar pelo veículo, encontravam um novo esporte que podia ser uma alternativa às corridas de cavalos que faziam o “chic” da Europa, como é descrito por Eça de Queiroz quando se refere ao hipódromo de Belém “Os Maias”.
A primeira competição de automóvel surgiu na França, o país que fora dotado com uma das melhores redes viárias do Império Napoleónico, que necessitava de mobilidade para deslocar suas tropas, exemplo do que na Antiguidade havia feito o Império Romano para as suas legiões. Em 1884, o jornal “Le Vélo” promoveu uma corrida entre Paris e Bordéus, com um regulamento muito liberal, que dizia: “Qualquer modelo é aceito desde que ande”.
Mas a primeira verdadeira corrida foi organizada pelo conde Albert de Dion, um aristocrata apaixonado pelos automóveis e também um construtor. Na época circulavam na França 350 automóveis e foi neste cenário que Dion fundou, em 12 de Novembro de 1885, o “Automobile Club de France” (ACF), em conjunto com o barão Zuylen de Nyevelt e Paul Meyan, redator-chefe do jornal “La France Automobile”. Neste mesmo ano promoveram a corrida Paris-Bordéus-Paris, numa distância de 1.178 km, que deveriam ser percorridos, sem paradas, em um limite de 100 horas.
A vitória de Levassor
Esta foi a primeira corrida. com cronometragem oficial e regulamento elaborado. A largada foi dada em 11 de Junho de 1895 e, dois dias depois, Emile Levassor reivindicou a vitória com o modelo de sua autoria, animado por um motor Daimler-Phoenix que cumpriu o percurso a uma média de 24 km/h.
É certo que, apesar do impacto do automóvel na sociedade europeia, ele ficou esquecido durante a Grande Exposição Universal de Paris em 1899, devotada à Ciência e Tecnologia, embora num canto do "Grand Palais" 4.500 veículos e 10 mil motocicletas marcassem o inicio incomparável da motorização.
Mas a loucura da velocidade era um fenómeno crescente. Depois do Paris-Bordéus-Paris, surgiram outras competições entre cidades (Paris-Trouville; Paris-Rambouillet; Paris-Toulouse; Paris-Ostende; Paris-Amesterdão, Paris-Berlim etc.). Tudo se passava muito rapidamente e, no Paris-Viena de 1902, Marcel Renault venceu com seu Renault K de 4 cilindros e 24 CV, a uma média de 60 km/h.
O aumento do número de concorrentes e a rápida evolução dos automóveis levaria a desafios cada vez mais arrojados. Foi assim que, em Maio de 1903, surgiu o Paris-Madrid, uma verdadeira maratona que iria utilizar estradas que, em muitos casos, eram caminhos ou veredas.
Tragédia no Paris-Madrid
Cerca de 250 concorrentes alinharam à partida, mas logo no início os acidentes com veículos de tração animal, animais domésticos e até camponeses, anunciaram o drama. Depois de seis mortes e 15 feridos, o Governo francês interrompeu a corrida. Entre os pilotos que perderam a vida, estava Marcel Renault, e seu irmão Louis decidiu abandonar a competição, deixando a outros a tarefa de guiar os seus carros. Até hoje, a única edição do Paris - Madrid é conhecida como a “Corrida para a Morte”.
 Fernand Gabriel Mors na Corrida de Paris-Madrid em 1903
 Ader V8 na Corrida de Paris-Madrid em 1903
 Marcel Renault
No ano em que os irmãos Wright levantar o seu biplano "Flyer I" durante 59 segundos numa distância de 260 metros, foi equacionada a forma de competir com automóveis. É certo que continuaram a ser disputadas provas de estrada que são hoje vistas como os antepassados do Campeonato do Mundo de Ralis. Mas também começaram a ser organizadas corridas em circuitos fechados, que viriam a dar lugar aos Grand Prix que estão na origem da Fórmula 1 (que surgiu depois da II Guerra Mundial), bem como as provas de resistência, como as 24 horas de Le Mans,em 1923 como um desafio aos automóveis de série.
500 Milhas de Indianápolis em 1913. |