Carros de prestígio raramente se apoiam no status de sua clientela, e com o Mercedes-Benz 300 – lançado no Salão de Frankfurt de 1951 – não foi diferente. Seu estilo, qualidades técnicas e requintes eram suficientes para sustentá-lo no topo da linha Mercedes. Porém, nenhum departamento de marketing poderia querer mais que ver um respeitado chefe de estado declarar sua preferência por um modelo, como fez o chanceler alemão Konrad Adenauer. Ele apreciava o conforto e o espaço do 300, de onde podia entrar e sair sem precisar tirar seu chapéu.
Enquanto a indústria alemã se reerguia depois de ter 90% de suas instalações destruídas na Segunda Guerra, o cunho popular do apelido “Mercedes Adenauer” calhava a um automóvel que poderia ser visto apenas como sisudo. Também conhecido pelo código interno W186, o 300 “Adenauer” vinha nas versões sedã e conversível de quatro portas para seis passageiros. Mais embutidos, seus para-lamas arredondavam o perfil reto. Era o primeiro Mercedes desenhado após a guerra. Numa época de contenção, a quantidade de cromados dava a dimensão de sua nobreza.
O chassi usava uma estrutura em X. O motor de seis cilindros em linha com válvulas no cabeçote, 3 litros e 115 cv levava cerca de 2 toneladas com garbo, auxiliado pelo sistema de lubrificação central e pelo eixo oscilante traseiro com amortecimento regulável. Entre os equipamentos opcionais, havia vários modelos de rádio Becker, telefone por ondas curtas, máquina de ditado e um amplo teto solar.
Para o chanceler alemão, ainda havia divisória interna, cortinas e pequenos mastros para bandeiras. Em 1955, o 300 trouxe quebra-ventos, melhorias nos freios, 10 cv a mais e transmissão automática BorgWarner de três velocidades, opcional ao câmbio manual com quatro marchas.
As fotos mostram um exemplar daquele ano. O raro teto solar toma toda a parte superior da capota do sedã, ideal para chefes de estado acenarem em paradas oficiais. Ao volante, o que mais chama atenção é... o volante. A direção leve para um carro pesado é uma grata surpresa, tendo três voltas e meia entre os batentes. A visibilidade, seja dos instrumentos, seja pelas janelas, é panorâmica, auxiliada em manobras pela altura dos para-lamas dianteiros e pelo mascote da estrela sobre a grade. Em qualquer posição que se viaje, sobra espaço e os assentos encorpados sustentam bem as costas. A maciez do rodar não implica inclinação excessiva nas curvas. O 300 se mantém focado até a próxima reta chegar, com uma mínima e administrável saída de traseira. Acima de 100 km/h só se ouvem os sussurros confortantes do motor e dos pneus.
A partir de agosto de 1957, o 300 (agora código W189) ganhou sua mais profunda alteração. Com maior taxa de compressão e injeção de combustível Bosch, o motor ia a 160 cv. O entre-eixos cresceu 10 cm. Se a grade aumentou, as colunas traseiras afinaram e as centrais desapareceram, dando ao sedã o estilo hardtop importado de Detroit. Os para-lamas traseiros ficaram mais retos e elevados. Direção hidráulica e ar-condicionado aumentaram a lista de opcionais. O 300 se manteve em linha até 1962, após 11 430 produzidos. Assim como o chanceler alemão, vários chefes de estado adotaram o modelo. Durante seu mandato, Herr Adenauer teve seis. Enquanto a indústria alemã recuperava seu brilho, eles exibiam até onde ela conseguia chegar. |