Por: Carlos Castilho
Quando nos referimos a automóveis, costumamos classificá-los de várias maneiras, seja pela sua marca, faixa de preço ou motorização. Mas sem dúvida alguma, a mais popular das classificações é quanto ao tipo de carroceria utilizada, como por exemplo, cupês, sedans ou cabriolets. O que poucos sabem, entretanto, é que a maioria dos nomes que usamos para classificar as carrocerias dos automóveis tem origem remota e até insuspeita; a maioria desses nomes vem do mundo das carruagens, as quais podem ser definidas como “veículos de tração animal para transporte de pessoas”.
Na época em que nossos bisavós e tataravós ainda se deslocavam em veículos tracionados por animais, como cavalos, mulas e outros, as carruagens já se diferenciavam umas das outras pelas suas formas e configurações.
Desse modo, enquanto um “tilburi” era uma pequena carruagem para duas pessoas puxada por apenas um animal, uma “caleche”, por outro lado, ostentava dois pares de bancos virados um para o outro e era normalmente puxada por dois cavalos.
Os nomes podiam variar de um país para outro, mas de modo geral a nomenclatura mais usual para esses veículos tem origem europeia, principalmente francesa ou inglesa. A maioria desses nomes já caiu em desuso há muito tempo. Porém, alguns deles ainda sobrevivem em pleno século XXI, sendo até hoje utilizados para nomear carrocerias de automóveis. Quando por exemplo definimos um carro como coupé ou cabriolet, estamos na verdade nos apropriando da mesma classificação que nossos ancestrais se utilizavam para nomear suas carruagens.
Por outro lado, às vezes a origem do nome de uma carroceria encontra-se em tempos mais recentes. Hatchback ou fastback, por exemplo, surgiram já na era do automóvel, em pleno século XX.
Para os amantes de carros em geral e, principalmente, para os apreciadores de antigos, um dos maiores prazeres é o de se aperfeiçoar no conhecimento do assunto e descobrir as origens, os porquês e os fatos curiosos relacionados, entendendo melhor o valor histórico de carros, personagens, países e situações.
Então eu gostaria de propor uma espécie de viagem no tempo, em busca das origens e significados de alguns dos tipos de carrocerias. E como a história da mobilidade é extremamente rica em detalhes e significados, faremos nossa viagem aos poucos, em capítulos.
Sedan: as Origens – Iniciemos então nossa viagem por aquela que talvez seja o mais conhecido tipo de carroceria, a do tipo sedan. O nome vem do italiano sedia (cadeira) e se aplicava inicialmente a um tipo de liteira (cadeira normalmente encerrada em uma cabine e carregada por dois homens); tratamos aqui, portanto, de um veículo inicialmente de tração humana. Esse tipo de veículo era fruto de uma época em que a sociedade era dividida entre nobres e plebeus. O ato de caminhar não fazia muito a cabeça da nobreza e ser carregado por escravos de lá para cá em um sedan era uma demonstração de poder. Talvez seja por isso que os carros do tipo sedan são até hoje reconhecidos por alguns como “carros de representação”, preferidos por executivos em deslocamento de negócios.
O Automóvel Sedan – O fato é que, com o passar do tempo e a evolução das carrocerias, o termo sedan foi herdado pelo automóvel e se consolidando na cabeça das pessoas como sinônimo de carros com três volumes bem definidos: O habitáculo, abrigando no mínimo quatro passageiros, o cofre do motor e o porta-malas (esses dois últimos podendo estar localizados tanto na parte dianteira como traseira, a depender do posicionamento do motor). Porém, alto lá! Existem “pegadinhas” nessa história. Você sabia que existem sedans de dois volumes? E sedans de duas portas? Vamos explicar melhor tudo isso em nossa próxima matéria, quando nos aprofundaremos um pouco mais no universo dos sedans.
Um Ford Falcon Sedan 4 Portas de 1961 (acima) e sua ancestral, uma cadeira do tipo sedan (abaixo). Repare em ambos como o habitáculo se sobressai e a área antes ocupada pelos carregadores foi substituída pelo cofre do motor e porta-malas
*Carlos Castilho é designer automotivo e professor universitário há mais de 20 anos. Há cinco anos é o responsável pela disciplina História do Automóvel, na Escola de Restauração de Veículos Antigos
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