Harley-Davidson JD de 1925
O conceito de motocicleta, assim como o conhecemos – uma roda alinhada a outra com um motor no meio –, tem pouco mais de um século de existência. Nesse espaço de tempo, algumas criações tiveram importância brutal no desenvolvimento e na evolução da indústria. Elas mostraram o caminho, estabelecendo tendências seguidas por fabricantes de todo o planeta.
Elaboramos uma lista “top ten”, que leva em consideração aspectos variados: históricos, comerciais, técnicos, esportivos, estéticos e outros. Não pretendemos que esta seja uma lista definitiva e tampouco obtenha unanimidade: é apenas um olhar, uma opinião, uma espécie de “de onde viemos”, que pode sugerir muito sobre o "onde estamos" e o "para onde vamos".
Importante: a ordem de apresentação dos modelos é cronológica.
Harley-Davidson JD
A lendária marca norte-americana era o maior fabricante de motos do planeta nos anos 1920 e o modelo JD, já equipado com o clássico motor V2 a 45 graus de 1.200 cc, foi o responsável por fazer a motocicleta se popularizar em nível global. Vendida em mais de sessenta países, as motos de Milwaukee enfrentavam então forte concorrência de muitas marcas dos EUA (Indian era a principal delas) e da fortíssima indústria britânica. A Harley-Davidson JD era confiável, robusta e capaz de superar os 100 km/h. Com ela, a Harley-Davidson introduziu itens técnicos e estilísticos importantes, como o freio dianteiro (!) e o tanque “teardrop” (em formato de lágrima), ainda hoje presente nas motos da marca.
Vespa MP6
Mãe de todos os scooters, a Vespa não foi (e é) apenas um meio de transporte de design singular: alguns conceitos técnicos muito importantes foram trazidos para a indústria motociclística pela Vespa, como o chassi realizado em aço estampado ou o motor como elemento solidário à suspensão traseira.
Outro item muito importante na época, o imediato pós-guerra em uma Europa destruída, era a possibilidade de ter um estepe, permitindo continuar a viagem mesmo na mais que provável situação de pneu furado. Não indiferente aos consumidores foi, também, a proteção oferecida pelo escudo frontal: da cintura para baixo, frio, chuva e sujeira não atingiam o condutor de uma Vespa. E fora isso era barata, econômica e resistente. O que pedir mais?
Vincent Black Shadow
Os britânicos dominaram a cena motociclística mundial durante boa parte do século XX e dentre os vários modelos relevantes produzidos por marcas como Brough Superior, Matchless, Norton, BSA, Triumph e outras, uma se destacou, e é considerada a primeira verdadeira “superbike” da história: a Vincent Black Shadow.
Primeira moto de série a superar a barreira dos 200 km/h de velocidade máxima real, isso em 1948 (ano de seu lançamento), ela confirmava sua excelência mecânica. O motor era um V2 de 998 cc capaz de 55 cv de potência. Uma novidade técnica que favorecia o baixo peso do modelo, pouco mais de 200 kg, era tal motor ter papel estrutural, fixado ao quadro pela parte superior. Suspensão monoamortecida na traseira (tipo Cantiléver) e uma exótica suspensão dianteira com amortecimento hidráulico completavam a cena de um modelo que fez escola e história.
Honda Super Cub
Produzido a partir de 1958, o modelo pode ser considerado uma espécie de “galinha dos ovos de ouro” da Honda. Mais de 60 milhões de exemplares foram feitos sob as mais diversas especificações, sempre fiéis às características que capturaram os clientes desde o modelo inicial: economia, robustez, facilidade de uso e manutenção e uma incomparável versatilidade.
Praticamente todo fabricante de motocicletas, ansioso por atingir grandes números em termos de produção, tentou e tenta fazer a sua própria Super Cub. O modelo foi o responsável pela sucesso da Honda em sua entrada no mercado norte-americano em 1963 sob o genial slogan “You meet the nicest people on a Honda” (Você conhece as pessoas mais legais em uma Honda). No Brasil, a Honda Dream e sucessivamente a Biz e a Pop são genuínas representantes do genial conceito.
Kawasaki 500 H1 Mach III
A 500 H1 foi a primeira moto da marca a ganhar visibilidade no maior mercado mundial do planeta no final dos anos 1960, os EUA, e não foi à toa: exibia um motor exótico, um 2 tempos tricilíndrico capaz de 60 cavalos de potência que, aliado ao baixo peso da moto (pouco mais de 170 kg a seco), fazia dela um verdadeiro foguete em aceleração. O fato de ter uma maneabilidade crítica e freios aquém do exigido não impediu esta Kawasaki de se transformar em uma lenda sobre rodas não só na terra dos dragsters (veículos leves com motores potentes) com também entre os fãs de motos esportivas no mundo todo. A Mach III deu à marca uma aura de velocidade que só cresceu com o passar dos anos, ainda mais com a criação de outros modelos furiosos pela fabricante das Ninja.
Honda CB 750 Four
A introdução da CB 750 Four no mercado mundial foi um verdadeiro divisor de águas para a indústria motociclística. Com ela, os japoneses deram o golpe de misericórdia no que restava das concorrentes britânicas e italianas, que até ali tentavam resistir à invasão nipônica do mercado mundial de motos iniciada no começo dos anos 1960.
De 1969 em diante a CB 750 Four reinou inconteste, sendo absolutamente superior a tudo o que existia até então não apenas em design, mas também – e especialmente – em tecnologia, confiabilidade, acabamento e performance. Não é exagero dizer que as motos de alta cilindrada, como as conhecemos hoje, são filhas do padrão qualitativo introduzido pela CB 750 Four.
Yamaha XT 500
A chegada da XT 500 ao mercado em 1975 estabeleceu um novo padrão para as motos off-road. De fato, ela foi a primeira big-trail da era moderna, capaz de conciliar desempenho fora de estrada com muita versatilidade e uso diário sem problemas, inclusive estabelecendo os parâmetros que fizeram das grandes trails motos admiradas para uso urbano. Capaz de levar da casa ao escritório e também de vencer as primeiras edições do rali Paris-Dakar, a XT 500 é um ícone da adaptação de uma só motocicleta a ambientes radicalmente diferentes.
BMW R 80 GS
A Yamaha XT 500 mostrou o caminho e a BMW o interpretou à sua maneira, criando a linha GS, que é hoje a série de maior sucesso da marca alemã. O que parecia uma heresia – dotar uma motocicleta fora de estrada de um motor bicilíndrico grande e pesado (e ainda por cima de arquitetura Boxer, ou seja, como pistões contrapostos) resultou em sucesso: logo o mercado entendeu que não havia nada de melhor do que essa receita para as longas viagens de aventura.
E o mundo não foi mais o mesmo, com motociclistas montados nas BMW da série GS e suas concorrentes percorrendo desertos, florestas e trilhas nos mais remotos lugares do planeta. Se hoje o segmento das motos de aventura é um dos mais promissores do mercado mundial, muito disso se deve à ousadia da BMW.
Suzuki GSX-R 750
O termo “race replica” designando um veículo derivado de um modelo de competição é hoje algo corriqueiro, e boa parte disso se deve à Suzuki, que inovou ao oferecer, em 1985, uma moto com praticamente todas as características técnicas de seus vitoriosos modelos nas corridas de Endurance (longa duração).
Colocar nas revendas motocicletas com especificacão praticamente igual à das vencedoras nas 24 horas de Le Mans, no Bol D’Or ou nas 8 Horas de Suzuka pareceu exagerado, excessivo, mas os clientes amaram. E logo a indústria mundial da motocicleta seguiu tal receita. A GSX-R 750 foi a primeira de uma até hoje farta estirpe de motos de altíssimo desempenho. Bastam apenas pequenos ajustes para transformá-las em verdadeiras motos de competição.
Ducati 851
Quando tudo parecia perdido, ou seja, quando havia pouca ou nenhuma esperança de que a outrora poderosa indústria italiana de motocicletas recuperasse algo de sua glória passada, a Ducati inventou a 851.
Era o final dos anos 1980, mais exatamente 1987, e a superesportiva 851 foi lançada trazendo nas entranhas uma nova interpretação do motor bicilindro em “L” a 90 graus, sempre com comandos de válvulas desmodrômicos (um sistema sofisticado para abertura e fechamento das válvulas por ação mecânica e sem mola de retorno), uma exoticidade técnica exclusiva da marca. A 851 teria sido mais uma moto para poucos e entendedores, mas o sucesso nas pistas, ao melhor estilo Davi vence Golias, se encarregou de energizar a Ducati e transformá-la de uma pequena marca com um interessante passado em uma grande marca com um notável presente.
A 851 bicilíndrica bateu os tetracilíndricos japoneses nos campeonatos reservados às motos derivadas de série com insistência. Isso trouxe sucesso comercial e diversificação de modelos, atraindo o interesse do gigantesco grupo Volkswagen que, com a marca Audi, é dono da Ducati desde 2012.
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