Na história da indústria inglesa, sir William Morris nunca obteve o
mesmo prestígio de sir William Lyons, aclamado pelos esportivos da
Jaguar. Mas sua empresa também fabricava sonhos para as famílias
inglesas, carentes de um automóvel simples e confiável para as tarefas
cotidianas. Projeto do renomado Alec Issigonis (o mesmo que criou o
Mini), foi apresentado em 1948, ganhando destaque pela estrutura mono-
bloco em dois tipos de carroceria: sedã de quatro portas ou perua de
duas, esta última muito elegante pela utilização de painéis de madeira,
típicos de sua época. Seu desenho era compartilhado com o Wolseley 4/50,
produzido pela subsidiária da Morris.
Para os padrões ingleses, seus 4,2 metros correspondiam a um modelo
de porte médio e o entre-eixos de 2,46 metros proporcionava espaço para
quatro adultos com relativo conforto. Mas era comum vê-lo carregando até
seis ingleses, graças à alavanca do câmbio na coluna de direção, cujo
bom uso era essencial: vazio, o Oxford pesava cerca de 1 tonelada,
demais para seu defasado quatro-cilindros.
Arcaico, ele não tinha válvulas no cabeçote, impedindo taxa de
compressão mais alta e giros elevados. Com 1 476 cm3, rendia só 41 cv,
mas com bom aproveitamento do torque de 8,9 mkgf, já a 1800 rpm.
Limitado pelo pequeno carburador SU, não passava de115km/h e o 0 a
100km/h levava mais de 40 segundos. Os insatisfeitos optavam pela versão
de seis cilindros, Morris Six MS. Mas o Oxford agradava por refinamentos
como freios a tambor nas quatro rodas com acionamento hidráulico e
suspensão dianteira de barra de torção, obra de Issigonis. O painel
trazia velocímetro, amperímetro, manômetro de óleo e relógio, e o ar
quente era um opcional muito desejado para encarar o rigoroso inverno
inglês. Foram vendidos 159960 carros até 1954, graças a sua qualidade,
robustez e economia, por isso fez parte da reconstrução da Inglaterra no
pós-Guerra.
A associação da Morris com a Austin em 1952 deu origem à British
Motor Corporation (BMC). Após essa união veio a segunda geração, em
1954. Atualizado em estilo, os para-lamas dianteiros estavam na altura
do capô e o carro, com 4,31 metros, ficou mais espaçoso. A principal
colaboração da Austin era o motor Série B, com válvulas no cabeçote: a
potência ia para 50 cv, permitindo atingir os 120 km/h e reduzindo o 0 a
100 km/h para 24 segundos.
O ar quente passava a ser de série e o Morris Six viraria Morris
Isis. Outro sucesso de público: em dois anos, foram fabricadas mais de
87 000 unidades da segunda geração. Uma delas é a que ilustra esta
reportagem e pertence ao colecionador mineiro James Mendonça. "Meu
pai teve um Morris quando eu era criança. Era o carro de uso pessoal
dele na década de 1950. Desconheço a existência de outro Oxford II no
Brasil: fiz questão de adquirir este em função de seu excepcional
estado. Até a forração dos bancos e a tapeçaria são originais."
Em 1956 chegava a terceira geração, mais requintada: leves barbatanas
emergiam dos para-lamas traseiros e a potência ia a 55 cv. Como
opcional, pintura em dois tons e câmbio semiautomático Manumatic, com
embreagem centrífuga e acionamento a vácuo. Foi produzido até 1959 e
sucedido pela quarta geração, completamente distinta, mas a terceira
continuaria viva e fazendo sucesso numa ex-colônia inglesa, a Índia, até
os dias atuais.
Longa vida
O Oxford III sobrevive até hoje na Índia, onde é feito desde 1958
como Hindustan Ambassador. Apelidado de Amby, mescla o defasado desenho
inglês com para-choques de plástico, motores Isuzu e câmbio de cinco
marchas. É um símbolo nacional.
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