A proibição das importações entre 1976 e 1990 fez com que nosso
mercado ficasse limitado a tudo o que era produzido pelas "quatro
grandes": Fiat, Ford, GM e Volkswagen. Foi o momento oportuno para
a aparição de construtores independentes de veículos fora de série,
destinados a satisfazer uma seleta parcela de consumidores de alto poder
aquisitivo, ávidos por exclusividade. O Emis Art é um dos exemplos dessa
fase. É um veículo urbano de apenas dois lugares desenvolvido por
Alfredo Soares Veiga e produzido por Eduardo de Miranda Santos, famoso
pela qualidade de seus bugues. A originalidade do projeto rendeu uma
aparição no horário nobre da TV, com o Art virando astro de novela
Cambalacho, de 1986, ao lado de Edson Celulari e Débora Bloch.
Baseado num chassi próprio do tipo espinha dorsal, ele reunia
componentes de diferentes fabricantes em apenas 3,10 metros: para-brisa,
portas e vidros laterais eram cedidos pelo Chevette e o vidro traseiro
vinha da Marajó. As lanternas eram da Fiat Panorama e todo o resto era
Volks: faróis e freios do Fusca, painel do Gol, volante do Passat, motor
e câmbio da Brasilia e diferencial do SP2.
Como nos bugues, sua carroceria era construída de fibra de vidro,
imune à corrosão. De linhas simples e agradáveis, era antes de tudo um
veículo carismático, que fazia sucesso em qualquer lugar. Era tão bem
resolvido que a fusão de peças de diversos fabricantes em nada
prejudicava a harmonia do desenho: tudo parecia ter sido criado para
ele.
Ratificando a máxima de que um carro vai muito além da somatória de
suas peças, ele não decepcionou na pista: pesando só 730 kg, fazia de 0
a 100 km/h em 13,93 segundos, apenas 0,5 mais lento que o Escort XR3. O
consumo era de 10,09 km/l na cidade e 13,17 na estrada, marcas
excelentes para a época. Sua estabilidade era incomum para um automóvel
artesanal: o comportamento era neutro, com rolagem mínima da carroceria
e tendência a um leve sobresterço só em curvas de alta velocidade.
Contribuía para isso a dureza da suspensão, ainda que ela não chegasse a
comprometer o conforto.
Apesar de tantas virtudes, o Art tinha suas limitações: não havia
porta-malas, pois o espaço sob o capô dianteiro acondicionava apenas a
bateria e o estepe. A solução para levar alguma bagagem (ainda que
pouca) era apelar para o espaço livre atrás dos bancos, onde ficava o
motor. Porém o mais indicado era evitar viagens longas para preservar os
ouvidos: mesmo utilizando a longa relação final do SP2, o nível de ruído
interno do Art era muito alto, fato agravado pelo som de aspiração dos
dois carburadores e pelo sistema de escapamento, o mesmo utilizado nos
bugues da marca.
O exemplar das fotos faz parte do acervo da loja Private Collections,
de São Paulo, e pertence ao colecionador João Carlos Sancini, que exalta
suas qualidades: "O Art é perfeito para as grandes cidades, pois é
leve, fácil de dirigir e cabe quase em qualquer vaga. Outro ponto
positivo é sua agilidade. Um carrinho muito esperto e que acelera
rápido".
Apesar da proposta urbana, o Art não se popularizou devido ao alto
preço. A seriedade do projeto tomava ares de brincadeira quando o
comprador percebia que ele concorria com carros maiores e mais
confortáveis, como Escort XR3, Monza SL/E e Passat GTS Pointer. Mantendo
o clima de exclusividade, a produção do Art foi finalizada em 1987, com
apenas 153 unidades produzidas. |