No meio militar, nenhum veículo é tão versá- til quanto uma VTNE
(Viatura de Transporte Não Especializado), um 4x4 de 750 kg de carga
para transporte de tropas, ambulância ou telecomunicações. No Brasil, os
precursores foram os Dodge WC e M37, sucedidos pela Willys Pickup e
Chevrolet C14/C15. Nos anos 80, o posto foi ocupado pelo Engesa EE-34,
que fez carreira no Exército.
O EE-34 confunde-se com a história da própria Engesa (Engenheiros
Especializados S/A), que até os anos 60 fazia peças de reposição para a
Petrobras. Ao ver que os veículos da estatal atolavam a caminho dos
poços de petróleo, a Engesa desenvolveu um kit de 4x4 simples e
eficiente, a Tração Total. Ela foi um sucesso e estreitou os laços da
Engesa com o governo militar. A GM também se interessou pela Tração
Total e a homologou para seus utilitários, tornando-se o principal
fornecedor de VTNE para as Forças Armadas, com as picapes Chevrolet
C14/C15 com sistema 24 volts, cabine aberta e para-brisa basculante.
Sucesso entre civis e militares, a Tração Total ainda viraria kit
para picapes usadas, com a transformação a cargo da Envemo (Engenharia
de Veículos e Motores Ltda.), do empresário Angelo Gonçalves. Em 1981
Angelo apresentou sua própria VTNE, ainda mais robusta e valente: o EE-
34. Baseado nas C14/C15, o estilo era inspirado em utilitários militares
americanos, como o Kaiser Jeep M715. A carroceria era da Envemo, mas o
resto vinha de outros fabricantes nacionais: o motor Perkins 4236
formava um conjunto elogiado com o câmbio Clark 240V de cinco marchas,
autonomia de 600 km e máxima de 100 km/h.
Mas sua principal evolução era a quase indestrutível caixa de
transferência Engesa de duas velocidades, originalmente dos caminhões
EE-15/EE-25, com peso bruto superior a 6 toneladas. Ela foi adotada para
eliminar a principal limitação técnica do antigo Sistema Tração Total: a
ausência da reduzida.
Rústico e espartano, o interior suportava bem as intempéries, com
bancos revestidos de vinil e painel que só tinha o essencial:
velocímetro, hodômetro, marcador de combustível, termômetro e luzes-
espia. No assoalho, três alavancas: câmbio, tração 4x4 e reduzida. Os
freios eram a tambor nas quatro rodas.
No total foram feitos 472 EE-34, 86 sob a batuta da Envemo (1981 a
1985), e 386 pela Engesa (1983 a 1985). A Engesa desenvolveu ainda uma
segunda geração em 1989, baseada na Chevrolet D20. Os EE-34 caíram em
mãos civis à medida que foram trocados no Exército pelos JPX Montez,
Toyota Bandeirante e Land Rover Defender. O exemplar das fotos, do
dentista Fábio Bellucci Leite, foi fabricado em 1983 e hoje participa só
de exposições e desfiles cívicos: "É muito legal ver a curiosidade
que ele desperta, já que são poucos os que conhecem sua história".
Ao fim da produção do EE-34, a Engesa estava em situação financeira
delicada, resultado de má administração e fatores externos, como a queda
mundial na demanda por veículos militares. O fomento à indústria de
defesa já não era prioridade do governo e a empresa não conseguiu se
adaptar ao mercado civil, como Embraer e Avibrás. A falência veio em
1993, representando o fim da empresa que figurou entre as cinco maiores
fabricantes de material bélico do mundo.
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