Giorgetto Giugiaro e Marcello Gandini, dois renomados projetistas que trabalhavam no fim dos anos 60 para o estúdio de Nuccio Bertone, foram responsáveis por lançar ao mundo do automóvel a tendência do "papel dobrado" — carros de formas tão retilíneas que pareciam feitos com algumas dobras de uma folha de papel. Essa fórmula foi aplicada tanto a modelos de produção desenhados em suas pranchetas, como o Lamborghini Countach e o Lotus Esprit, quanto em vários carros-conceito idealizados por um ou por outro, a exemplo do Alfa Romeo Carabo, do VW-Porsche Tapiro e do Maserati Boomerang.
Obra de Giugiaro, o "bumerangue" da marca do tridente foi exposto pela primeira vez, ainda sem possibilidade de rodar, no Salão de Turim de 1971. E impressionou pelo perfil que lembrava o de uma seta, com frente afilada, carroceria muito baixa (1,07 metro) e um para-brisa tão inclinado (a 15 graus da horizontal) quanto poderia estar sem comprometer o uso do carro. Faróis escamoteáveis eram necessários para uma frente de perfil tão baixo, enquanto as portas traziam janelas fixas e áreas de vidros na parte inferior, que expunham os ocupantes, assim como o teto com seção transparente. As medidas eram de 4,34 m de comprimento, 1,86 m de largura e 2,60 m de entre-eixos. Sua proposta de estilo inspirou, nos anos 80, o fora-de-série brasileiro Hofstetter.
No evento de Genebra do ano seguinte ele aparecia apto a circular por meios próprios, mas com o mesmo desenho. Não menos surpreendente era o interior: o aro do volante servia de moldura ao conjunto de instrumentos, com o grande conta-giros e o velocímetro usando o mesmo ponteiro em seis escalas concêntricas, uma para a rotação do motor e as cinco internas (uma para cada marcha) para a velocidade correspondente à rotação apontada na escala externa. Ao redor desse conjunto, os quatro raios do volante moviam o sistema de direção. Os dois ocupantes sentavam-se em bancos baixos do tipo concha. Atrás deles, o motor V8 de 4,7 litros — o mesmo do esportivo Bora — foi usado em posição longitudinal. Com potência de 310 cv e câmbio manual de cinco marchas, prometia velocidade máxima de 280 km/h, das mais altas registradas até então por modelos de produção. A suspensão era independente nas quatro rodas, que usavam pneus 215/70 R 15 e tinham freios a disco ventilado. O carro pesava 1.400 kg.
Depois de exposto nos salões de Paris, Londres e Barcelona, o Boomerang foi vendido a um entusiasta pela marca em 1980. Dez anos depois, após restauração, era mostrado em um concurso em Paris onde Giugiaro, um dos juízes, aprovou o trabalho e assinou na parte traseira do carro. Anos depois o conceito mudava de mãos e o comprador fez nova restauração, concluída em 2003. Como o objetivo era ter um carro funcional e licenciado, foi preciso adotar retrovisores externos e modificar elementos como o painel dentro do volante, que ganhou instrumentos e comandos convencionais. Mesmo assim, a ousadia desse Maserati foi respeitada e ele alcançou o valor aproximado de US$ 1 milhão ao ser vendido pela empresa de leilões Christies no evento Rétromobile, em Paris, em fevereiro de 2005. Desde então tem sido admirado em diversos eventos voltados a carros especiais.
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